Do babaçu à justiça energética: projetos maranhenses levam inovação e resistência à COP30
Reportagem

Do babaçu à justiça energética: projetos maranhenses levam inovação e resistência à COP30

07 de novembro de 2025

O Maranhão vai à COP30, em Belém, levando projetos de temas variados, que refletem a importância do estado em pautas ambientais e sociais. De um lado, pesquisadores e movimentos sociais que participarão da Cúpula dos Povos, denunciando desigualdades e reivindicando justiça energética; de outro, iniciativas locais como a Apoena Bioindustrial, que demonstrarão, na prática, caminhos sustentáveis para o desenvolvimento regional.

O professor Welbson do Vale Madeira, do curso de Ciências Econômicas da UFMA e integrante do Grupo de Trabalho de Política Agrária, Urbana e Ambiental do ANDES-SN, é um dos representantes maranhenses na Cúpula. Ele explica que as pesquisas do grupo revelam um paradoxo na produção de energia no estado: embora o Maranhão produza mais do que consome, grande parte dessa energia é direcionada a grandes empresas, enquanto comunidades locais permanecem sem acesso adequado.

Estas e outras discussões estarão presentes na Cúpula dos Povos, que ocorrerá de 12 a 16 de novembro na UFPA. Este evento, que acontece paralelamente à COP30, deve reunir cerca de 800 organizações com reivindicações formais e manifestações — como uma grande marcha prevista para o dia 15 — buscando sensibilizar autoridades para acolher propostas em defesa das comunidades tradicionais e quilombolas. Enquanto a COP tem o objetivo de reunir os governos para realizar negociações, a Cúpula dos Povos reúne movimentos sociais e comunidades impactadas pela crise climática.

Manifestação de indígenas maranhenses da etnia Tremembé
Manifestação de indígenas maranhenses da etnia Tremembé contra ações de despejo que sofreram no município de São José de Ribamar. Estarão representados na Cúpula dos Povos, em Belém. Welbson Madeira

Entre as ações previstas, o Grupo de Trabalho “Políticas Agrárias, Urbanas e Ambientais do ANDES-SN” apresentará propostas de reparação por crimes cometidos por grandes empresas durante a ditadura militar, como o caso da Volkswagen, condenada pelo TRT da 8ª Região a pagar R$ 165 milhões por trabalho análogo à escravidão e tráfico de pessoas, em agosto de 2025.

A Plenária da Cúpula dos Povos está marcada para o dia 14 e pretende reunir organizações internacionais para mapear violações de direitos humanos na Pan-Amazônia e fortalecer articulações jurídicas contra empresas envolvidas. “Nosso objetivo é colocar em pauta a relação entre energia, território e justiça social”, resume Welbson.

As discussões políticas que emergem na Cúpula dos Povos encontram eco em experiências locais, como a da Apoena, que materializa no território maranhense os princípios de justiça energética e social defendidos pelos movimentos.

A Apoena Bioindustrial é uma empresa maranhense voltada para a bioeconomia da Amazônia que se destaca por valorizar o trabalho de mulheres quebradeiras de coco babaçu do interior do estado. A partir dessa parceria, é possível transformar a matéria-prima em produtos de alto valor agregado e baixo impacto ambiental, promovendo geração de renda local, equidade e uso sustentável dos recursos naturais.

Segundo Márcia Werle, CEO e fundadora da empresa, cerca de 94% do babaçu costuma ser descartado ou subaproveitado. A proposta é aproveitar integralmente o fruto, desenvolvendo óleos, farinhas e aditivos automotivos com foco em sustentabilidade e impacto positivo.

Márcia Werle, CEO da Apoena Bioindustrial
Márcia Werle, CEO da Apoena Bioindustrial.

Para ela, participar da COP30 representa um marco importante para o Maranhão e para o Nordeste, ao mostrar que é possível unir inovação, conhecimento tradicional e tecnologia limpa. “A gente quer levar a potência do coco babaçu para o mundo conhecer”, afirmou.

“A nossa atuação está na interseção entre justiça climática, justiça social e transição energética”, explica Werle. “Transformamos um recurso abundante em oportunidades reais para as comunidades, fortalecendo as economias locais e evitando o êxodo das famílias do campo.”

Por fim, a representante ressaltou que o estado, por abrigar três biomas em seu território, possui uma riqueza ambiental única. “O Maranhão tem uma característica muito interessante e estratégica. É preciso mostrar essa identidade e esse potencial, principalmente a potência do coco babaçu”, concluiu.

Produzido pelo Laborejo, em parceria com a Rádio Universidade FM e o Coletivo Ocorre Diário, o Diário COP30 acompanhará o evento e dará visibilidade a essas diversas frentes de atuação. O boletim estreia no dia 10 de novembro no Jornal da Rádio Universidade, com reprises às 11h30 e 14h, e estará disponível também no Spotify, nos perfis Rádio Universidade FM e OcorreCast.


Gabriel Almeida é estudante de Comunicação Social com habilitação em Audiovisual pela UFMA. Integra o Laborejo, atuando na produção de conteúdo jornalístico investigativo. Tem experiência em redação, produção televisiva e radiofônica, além de desenvolver roteiros e projetos audiovisuais. Também faz parte da Mostra Gato Digital, iniciativa dedicada à exibição e valorização de produções audiovisuais independentes dos estudantes universitários.

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