Afinal, o que é estética e qual sua importância no nosso dia a dia?
Opinião

Afinal, o que é estética e qual sua importância no nosso dia a dia?

5 de julho de 2025

Você já se perguntou alguma vez por que algumas coisas nos causam tanto encanto ou desconforto? Por que alguns preferem ouvir rock alternativo e outros funk carioca? Essas reações diante de qualquer coisa fazem parte do estudo da estética, uma área que hoje vai além da simples noção do “belo”, “feio”, “sublime” ou “grotesco”, investigando como somos afetados pelo mundo em que vivemos e pelas inúmeras formas e nomes que o compõem.

A estética trata da nossa experiência sensível: aquilo que vemos, tocamos, ouvimos e sentimos. Desde as classificações clássicas citadas anteriormente até os estímulos visuais presentes nas grandes mídias, redes sociais ou mesmo nos protestos políticos, ela tem acompanhado as transformações da sociedade, sendo onipenetrante.

Embora antigamente estivesse quase sempre associada às artes, a estética assumiu novos contornos com o passar dos anos, ocupando nos tempos contemporâneos um lugar central nas estratégias de comunicação, servindo como uma engrenagem para o modelo de produção capitalista. Na publicidade, por exemplo, cada cor, forma ou som é pensado para provocar um estímulo sensorial seguido de uma resposta emocional — muitas vezes, estimulando o desejo de consumo. Como aponta Silvano Alves, vivemos em um tempo em que a estética tem sido instrumentalizada de forma proposital, com um papel utilitário dentro da lógica de mercado.

Imagem ilustrativa sobre estética
A estética permeia nosso cotidiano e influencia nossas percepções e decisões. Montagem do autor a partir de imagens do longa-metragem Baraka (1993) dir. Ron Fricke; imagens do unsplash; e pintura Noite Estrelada de Vincent van Gogh (1889).

A estética também é uma maneira de conceber o mundo. Quando somos tocados por uma imagem, uma música que gostamos, um aroma que nos faz lembrar de um momento vivido, começamos a construir narrativas internas sobre aquilo que sentimos. Essa sensibilidade — não somente a lógica ou mera abstração — nos ajuda a interpretar e atribuir sentido às coisas, mesmo que de forma inconsciente.

Estudo filosofia indiana há anos, e a estética espiritualista, por exemplo, é frequentemente compreendida como meio de acesso ao sublime. O conceito de rasas — que poderia ser traduzido como uma espécie de “saboreamento estético”, perpassa tanto a experiência religiosa (a percepção da divindade dentro de si) quanto as artes e outras inúmeras expressões emocionais e sensoriais (erótico, medo, heróico, repulsa, etc.)

Para alguns filósofos europeus, como Immanuel Kant, julgar algo como belo é uma ação subjetiva, mas que carrega em si uma pretensão de que outras pessoas também compartilhem do mesmo sentimento. Esse pensamento defende que a apreciação estética é desinteressada, ou seja, livre de qualquer utilidade prática. Porém, essa visão foi e tem sido amplamente questionada por outros pensadores. Como poderia o ‘gosto’ ser desprovido de interesse, se ao nascer somos condicionados a perceber as coisas de uma forma — e não de outra?

Pierre Bourdieu, por exemplo, contra-argumenta ao dizer que o gosto está diretamente relacionado à origem e ao contexto social dos indivíduos. As preferências estéticas nunca são neutras: refletem inúmeros fatores, como condições culturais, econômicas e históricas. Alguém criado em uma comunidade periférica tende a ter um repertório estético diferente de quem cresceu em um bairro nobre, mesmo que ambos vivam numa mesma cidade — e isso não é coincidência. São experiências de vida diferentes, moldadas por contextos diversos.

Todo e qualquer humano é socializado desde a tenra infância, de modo que nossos gostos, sensibilidades e saberes são profundamente marcados pelas nossas experiências em comunidade. Bourdieu defende que o gosto não apenas expressa preferências individuais, mas também atua como um marcador social — sendo produto das classes dominantes.

Respondendo à pergunta do título: Compreender o que é estética é importante na medida em que nos ajuda a entender por que sentimos o que sentimos — e como isso influencia nossas decisões, gostos e visões. Em um mundo profundamente imagético, sensorial e imediatista, desenvolver uma sensibilidade crítica se torna essencial para que não sejamos meros produtos do sistema.

Mais que isso: a estética também é uma forma de resistência. Está presente nas roupas que usamos, nas linguagens de grupos historicamente marginalizados, nas performances urbanas, nas artes periféricas, nas estéticas decoloniais, nas bandeiras dos movimentos sociais. Ela é um campo onde a cultura se expressa livremente e onde diferentes grupos reivindicam suas identidades.

A estética não é apenas um campo de estudo dissociado da realidade — é parte do nosso cotidiano, das nossas vivências, da forma como nos relacionamos com nós mesmos e com os outros, sendo, portanto, uma parte inseparável da experiência humana.


Gabriel Almeida é estudante de Comunicação Social com habilitação em Audiovisual pela UFMA. Integra o Laborejo, atuando na produção de conteúdo jornalístico investigativo. Tem experiência em redação, produção televisiva e radiofônica, além de desenvolver roteiros e projetos audiovisuais. Também faz parte da Mostra Gato Digital, iniciativa dedicada à exibição e valorização de produções audiovisuais independentes dos estudantes universitários.

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O Laborejo é um projeto de jornalismo independente que atua no Maranhão, produzindo reportagens aprofundadas sobre temas de interesse público e ampliando a pluralidade de vozes sobre as realidades da sociedade maranhense.